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Sedentarismo infantil: crianças conectadas


Avanço tecnológico traz risco às crianças que abandonam a prática de atividades físicas.

Para muitas mamães e papais ter um filho gordinho, bochechudo, cheio de dobrinhas é uma dádiva, afinal, é um sinal de que a criança está bem. Mas os profissionais da saúde não pensam da mesma maneira e garantem que essas características podem ser um sinal de alerta para a obesidade infantil, considerada o distúrbio nutricional que mais ocorre na infância. A atenção deve ser redobrada: a maioria dos pais tem dificuldade para perceber que os filhos estão acima do peso.

Os números comprovam o avanço da doença, que recebeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) o status de “epidemia global”. No senso feito entre maio de 2008 e maio de 2009, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que o excesso de peso em crianças de 5 a 9 anos de idade cresceu de forma acelerada nas áreas urbanas e rurais. Em 1989, estimava-se que 15% das crianças do sexo masculino estavam com excesso de peso e 4,1% em estado de obesidade.

Já em 2008/2009, este índice saltou para 34,8% com excesso de peso e 16,6% com obesidade. Para as meninas, a situação é igualmente preocupante: em 1989 existiam 11,9% com excesso de peso e 2,4% com obesidade. Em 2008/2009 a porcentagem aumentou drasticamente: 32,0% com excesso de peso e 11,8 com obesidade.

Entre os fatores que podem explicar o aumento do número de crianças obesas estão os hábitos alimentares e o estilo de vida, cada vez mais tecnológico. Com a popularização da internet e o acesso cada vez mais precoce aos inúmeros recursos que ela oferece – como, por exemplo, computadores, videogames, tablets e smartphones – os pequenos passam cada vez mais tempo online (cerca de três horas diárias). Na contramão, praticam cada vez menos atividades físicas.

Reeducação alimentar

Mas a mudança de comportamento é possível. A nutricionista Gabriella Zorzi recomenda que as crianças sejam submetidas a um processo de reeducação alimentar. “Esta é a melhor maneira para se perder peso. Controlar a quantidade ingerida, estabelecer horários fixos, comer devagar e em local tranquilo, diminuir a ingestão de líquidos durante as refeições, optar por sanduíches saudáveis, utilizar menos óleo na preparação dos alimentos, trocar biscoitos recheados pelos sem recheio, substituir leite integral pelo desnatado, além de incentivar o consumo de frutas e evitar refrigerantes”, orienta.

A nutricionista alerta que uma dieta inadequada pode causar problemas como desnutrição, anemia, raquitismo, obesidade e até déficit de crescimento. Ressalta-se ainda que crianças com excesso de peso correm o risco de permanecer obesas na fase adulta e, por isso, são mais suscetíveis a doenças como diabetes e problemas cardiovasculares, cada vez mais precocemente.

Na receita em prol da saúde, outro ingrediente importante é a prática de atividade física que, segundo Gabriela, não deve ficar restrita ao esporte, muito pelo contrário. Por último, ela aproveita para enfatizar a necessidade de uma orientação profissional. “O corpo de uma criança está em crescimento constante, portanto, toda prática esportiva deve ser indicada por um médico ou profissional. É importante lembrar que ela é criança, e um esforço físico exagerado pode ser prejudicial”, acrescentou a nutricionista.

Enfrentar adversidades

Pensar em uma atividade física para crianças e adolescentes é considerado um desafio. O profissional deve saber conduzir e estimular, e estar sempre disposto a enfrentar adversidades no caminho. “Acredito que a atividade física é essencial na vida de uma criança, pois ajuda no crescimento e desenvolvimento para que ela alcance um físico harmonioso e fique longe do sedentarismo. Já no aspecto afetivo, ela certamente será uma pessoa mais segura e sociável. É importante lembrar que a prática deve ser feita com frequência ”, explicou a professora de vôlei Adriana Arista.

Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), antes de iniciar um programa específico para perda de peso em crianças obesas, deve-se fazer um diagnóstico prévio da capacidade funcional dos pacientes, seja por uma avaliação apenas cardiovascular (teste ergométrico) ou uma verificação da capacidade cardiorrespiratória (teste ergoespirométrico). A partir destes dados que a prescrição passa a ter uma individualidade e uma segurança maior. Ainda segundo a ABESO, o treinamento realizado três dias por semana é suficiente para auxiliar na perda de peso corporal em crianças obesas.

Outro fator que deve ser levado em consideração são as complicações ortopédicas, que podem provocar diversas mudanças na estrutura do corpo, como, por exemplo, na região dos joelhos. Normalmente, as crianças nascem com os joelhos distanciados um do outro (em forma de arco) e com o crescimento os joelhos passam a ser em X e, posteriormente, à posição normal. Se a criança possui excesso de peso, essa correção natural não ocorre, trazendo defeitos na postura, gerando um desgaste das articulações. A apófise dos calcâneos é uma doença que afeta a placa de crescimento do calcâneo, o que provoca dor intensa no calcanhar ao caminhar.

Se todos os argumentos anteriores não foram suficientes para conscientizar os pais, aí vai um último conselho: crianças aprendem tudo com muita facilidade. Por vezes, se espelhando nas atitudes de um adulto. Ser um bom exemplo para seus filhos ao manter uma alimentação saudável e realizar atividades físicas regularmente, vai influenciar no pensamento dos pequenos. As chances de eles adotarem um comportamento saudável pelo resto de suas vidas serão muito maiores.

*Mariana Barbi é estudante de jornalismo do Ceunsp (Salto-SP) e participante do projeto Muito Mais, do Instituto Noa, sob orientação do jornalista Piero Vergilio.

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