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Parto normal X Cesárea


Gestantes devem buscar informações para que possam optar sobre a modalidade de parto mais indicada ao seu quadro clínico

Os números são alarmantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil é o país que mais realiza partos cesáreas no mundo. As taxas chegam a 84% no sistema privado e a 40% no SUS, quando o recomendado é 15%. Esta matéria vai tentar explicar o porquê o Brasil segue na contramão deste caminho.

O parto cesárea é um recurso importante para salvar vidas, mas deve ser feito apenas em casos especiais. Na verdade, são poucas as situações que podem ser solucionadas com a cesariana. Podemos citar como exemplo quando a placenta se desloca impedindo a saída do bebê, ou então quando a mãe desenvolveu hipertensão durante a gravidez. Nestes casos é inevitável a realização de uma cesárea.

Por outro lado, a cesárea necessita de uma estrutura médica mais ampla do que o parto normal. Com isso, mais investimento é feito, e mais dinheiro é gasto. Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, a ‘indústria da cesárea’ começou a se formar há 40 anos. Falhas na regulamentação do sistema de saúde do país e um interesse financeiro de profissionais e obstetras, fizeram com que os partos normais fossem quase extintos dos hospitais.

A questão que deve ser discutida é o por que os médicos estão optando por fazer cesáreas, mesmo quando as mães preferem o parto normal. Em um vídeo divulgado pelo Dr. Marcelo Hoshino, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo, ele explica que as mulheres devem prestar atenção em quadro indicadores: contração a cada 5 minutos por pelo menos uma hora; perda de líquidos; sangramento e redução da movimentação fetal. Quando estes indicadores foram identificados, é a hora de correr para o hospital. “Quero parabenizar pela escolha do parto normal, que sem dúvida nenhuma é a melhor opção de como ganhar seu neném”, acrescentou o médico.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Nascer, do Brasil, divulgada em setembro de 2014 e coordenada pela ENSP/Fiocruz, 28% das brasileiras desejam ter uma cesariana já nos primeiros meses de gravidez. Os planos de saúde e os obstetras a eles vinculados vêm sistematicamente estimulando a fazer cesarianas. Criou-se uma "cultura da cesárea" no Brasil, embora os ginecologistas e responsáveis pelas operações realizadas nos hospitais garantam que não há um comércio do parto cesárea.

Como reduzir o parto cesárea

Na região, o cenário é semelhante. Segundo a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Itupeva, de janeiro a março de 2015, foram realizados 67 partos normais e 80 cesáreas no hospital público da cidade. Esses tipos de partos não têm custo nenhum para os pais, e o valor é repassado ao SUS. Questionados sobre como é feito o pagamento dos obstetras, a explicação é a de que o valor recebido é referente as horas trabalhadas, e não baseados na quantidade de partos realizados. Ainda segundo a assessoria, as mães que escolhem por qual procedimento querem passar. Uma rede de hospitais particulares também foi acionada e não respondeu aos questionamentos.

O governo criou um programa para diminuir a quantidade de partos realizados no país, a medida adotara é reforçar a importância do partograma, um documento que detalha como foi o parto. Só assim é possível entender as reais causas que justificam as decisões tomadas pelos médicos. Atualmente o partograma é obrigatório no SUS, mas não é tratado com maior rigor nos planos privados. A partir de agora, as empresas de planos de saúde só poderão realizar o pagamento dos procedimentos após a apresentação deste documento.

Como forma de inibir as práticas desnecessárias de parto cesárea, haverá ainda a divulgação do percentual de cesarianas por hospital, por médico e por operadora. O descumprimento da regra acarretará em multa de R$ 25 mil reais para a operadora do convênio.

Aconteceu comigo!

É muito importante que a mulher vá atrás de informações que ajudem a decidir por qual parto optar. É um equívoco se basear unicamente no relato de amigas e parentes. A mãe também acredita que o médico, por ser um indivíduo que estudou durante anos e anos para estar ali, sabe de tudo e que não tem autoridade para questioná-lo. Mas é de extrema relevância que a mulher entenda que ela é a principal personagem em toda a história. A seguir, conheça alguns depoimentos de mães.

Ana Cristina Bruno teve dificuldades na hora do parto em suas duas gestações. Na primeira, precisou realizar um procedimento com fórceps, que é um instrumento utilizado no auxílio forçado para o parto normal. Já na segunda gravidez, o parto foi induzido para que houvesse uma dilatação maior e o bebê pudesse nascer sem complicações maiores. “Se eu fosse escolher novamente, optaria ao parto normal. A minha recuperação foi muito rápida. Na cesárea a mulher precisa ficar sem levantar por algumas horas”.

Kelly Rosa, deu à luz sua menina Nicolly. De acordo com a definição da OMS, o parto normal deve ocorrer naturalmente, e foi assim que Kelly teve sua bebê. “Estava em casa e minha bolsa estourou. Foi tudo tranquilo! Se futuramente precisar, escolho o parto normal novamente”.

​Maria Elisangela da Silva, 30 anos. No ano de 2013 esperava pela chegada de seu bebê Samuel, quando começou a sentir a famosa ‘dor do parto’. Começou a ter contrações e a sua dilatação era estável. A cesárea estava marcada para meados de setembro, ​​mas devido a estas contrações, precisou ser realizada no fim de agosto. “A minha intenção era ter parto normal, mas como tive pouca dilatação, optei pela cesárea. Além disso uma tia minha perdeu um bebê na hora do parto, pois demorou muito para realizarem algum procedimento. Fiquei com medo. Sofri as dores de um parto normal”

Michelly Santos, 20 anos é mãe de duas filhas. Aos 16 teve a sua primeira filha Isabella por meio de um parto cesárea. “Minha primeira foi cesárea marcada. Na época eu não tinha muito conhecimento sobre parto e as consequências deles. A médica que fez meu pré-natal não me deixou fazer parto normal. Acredito que ela pensou no dinheiro e na comodidade. Disse que por eu ser muito magra, teria complicações no parto”. Já na segunda gravidez, Michelly entrou em trabalho de parto, perdeu líquidos e a bebê nasceu prematura. Analisando os riscos para a mãe e a criança, a melhor opção foi a cesárea. “Quando eu tiver outra criança, com certeza quero o parto humanizado, dentro da minha casa”, acrescentou Michelly.

Suzimari Rehano, 33 anos, dois filhos. O primeiro parto, devidos as circunstâncias como o rompimento da bolsa e a dilatação, foi realizado o parto normal. Já o segundo, por escolha própria fez cesárea. “Queria que meu marido assistisse o parto, como ele viaja bastante, marcamos o dia certo e tudo aconteceu. Se precisasse escolher de novo, escolheria o cesárea. Meus pontos inflamaram na minha primeira gravidez, e demorei a me recuperar”.

Mariana Barbi é estudante de jornalismo do Ceunsp (Salto-SP) e participante do projeto Muito Mais, do Instituto Noa, sob orientação do jornalista Piero Vergilio.

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