“Meu filho tem dislexia, e agora?”

Apesar de esse diagnóstico ser assustador e angustiante, é comum crianças que sofrem com algum tipo de transtorno de aprendizagem. Saiba mais sobre a dislexia e como você pode ajudar o pequeno dentro e fora da escola!
Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), o problema atinge cerca de 10% da população mundial, sendo 7% somente no Brasil. Caracterizada como um transtorno específico de aprendizagem, a dislexia afeta a capacidade da criança na leitura, escrita, decodificação e interpretação de letras e palavras. A primeira infância (de zero a seis anos) é o período em que são absorvidos os conhecimentos necessários para a formação intelectual e acadêmica do pequeno, por isso é muito importante reconhecer os sintomas precocemente e buscar um diagnóstico preciso.
À procura de respostas
A dislexia tem origem neurobiológica, com incidência genética, ou seja, é hereditária e pode haver vários casos – em diferentes graus – na família. As suspeitas começam com as observações dos pais dentro de casa, como o bloqueio da comunicação e na hora de expor ideias, além de reclamações que os filhos fazem em relação à escola, como não entender o que a professora fala, não conseguir ler ou ler com muito mais dificuldade do que os coleguinhas (veja os principais sintomas abaixo).
Depois da suspeita, a família deve encaminhar a criança para uma equipe multidisciplinar, a qual conta com o trabalho de neuropediatras, neuropsicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, que irão fazer exames neurológicos e vários testes de leitura e conversação para o diagnóstico final.
De olho nos (possíveis) sintomas
Na primeira infância - de zero a seis anos:
Dispersão
Atraso na fala
Inversões ou omissões de sílabas ao falar
Dificuldade em memorizar músicas, recados ou frases que precisam ser lembradas
Objeção a materiais gráficos
Confusão com quebra-cabeças ou atividades lúdicas que envolvam noção espacial
Esquecimento rápido de nomes de objetos e pessoas
A partir de sete anos – idade escolar:
Dificuldade com leitura e interpretação de textos
Desatenção e dispersão
Pouca memorização (faz contas nos dedos e não consegue decorar a tabuada)
Confusão com esquerda e direita
Vocabulário com sentenças curtas e imaturas
Dificuldade em copiar de livros e lousa
Desorganização
Atrasos na entrega de tarefas
Inversão de letras ou escrita espelhada
Inversão de números
Falta de habilidade para ler mapas, dicionários, listas telefônicas...
“Nem toda criança que tem dificuldade de leitura é disléxica. As causas são diversas e pode ser resultado de uma má alfabetização, por exemplo, ou desencadeado por outros problemas neurológicos, como TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), deficiência intelectual e autismo”, Dr. Clay Brites, neuropediatra
Tipos de dislexia
- Adquirida: origina-se de algum processo de deterioração do cérebro ou episódio traumático, como Alzheimer e outras doenças degenerativas, infartos ou acidentes cerebrais, por exemplo.
- De desenvolvimento: é quando a criança nasce com a dislexia, em que o distúrbio afeta a habilidade de leitura e escrita, bem como outros aspectos de linguagem.
- Fonológica: acontece quando a dislexia é gerada por um problema fonológico, ou seja, por falha na percepção dos sons das letras.
Sintomas mais comuns de crianças com dislexia fonológica:
Confusões entre as letras d-b, p-q, b-g, u-n, g-p, d-p
Omissões de letras, sílabas ou palavras: chapéu/capéu
Inversões nas letras ou sílabas: pai/pia
Reiterações de sílabas ou palavras: cozinha/cocozinha
Invenções de palavras: quê/e de quê
- Superficial: caracteriza-se por uma dislexia que ocorre por falha na percepção da forma visual de letras e palavras, ou seja, a criança comete erros de omissão, adição ou substituição de letras, palavras ou sílabas. Quem sofre com esse tipo de distúrbio tem mais problemas ortográficos na idade escolar, já que a criança se baseia em informações que ela escuta.
- Profunda ou mista: é quando a dislexia ocorre pelas duas formas ao mesmo tempo, em que há erros de compreensão tanto no processo auditivo quanto no visual. Isso que dizer que a criança tem bastante dificuldade em reconhecer o som e interpretar o significado das palavras, principalmente as abstratas.
Existe um grupo de risco?
Segundo o médico Roberto Debski, a dislexia é mais frequente no sexo masculino, chegando a 80% dos casos mais graves. Para ele, isso se deve à exposição de doses excessivas de testosterona durante a gestação. “Outras pesquisas apontam a prevalência familiar ou genética, com possível alteração em genes do cromossomo 6 e dominância, afetando muitas vezes mais de um membro da família”, completa o profissional.
O que fazer com o diagnóstico em mãos
A dislexia não é uma doença, muito menos uma deficiência. Trata-se de uma disfunção neurológica no processamento visual-fonológico da leitura. Por isso, não há apenas um tipo de tratamento, mas sim um conjunto de orientações de diferentes profissionais para que a criança se adapte e alcance seu potencial por meio de outras formas de aprendizado e captura de informações.
Os tratamentos, de acordo com cada caso e sempre que possível, devem ser multidisciplinares com a presença de médico, pedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo e outros que se fizerem necessários. Com ajuda especializada e de forma progressiva, a criança vai conseguir assimilar conteúdos e aprender sem necessidade restrita à leitura. Ouvir os textos, falar em voz alta o que lê, fazer provas apenas oralmente, usar meios de comunicação sem letras (como as cores) para memorizar informações ou se organizar, utilizar-se de programas onde os textos são apresentados com mais nitidez e contraste são formas variadas que o disléxico pode buscar para poder memorizar e trabalhar informações. “Em casos de a criança ser pequena (antes dos 6 anos), os pais podem encaminhá-la à terapia com fonoaudiólogo especializado e adotar meios de alfabetização que tenham elementos de metodologia fônica e multissensorial”, explica Dr. Clay Brites.

O papel da família
Ter o cuidado de não rotular a criança disléxica como preguiçosa ou vê-la como deficiente é fundamental para que não se desenvolvam estigmas que possam piorar o quadro e comprometer sua socialização e autoestima. Além disso, o portador desse distúrbio precisa muito do apoio dos pais e de toda a família, que podem ajudar o pequeno com treinos de leitura (ler em voz alta para auxiliar na compreensão das palavras), bem como estimulação de jogos
e brincadeiras com letras, fazendo reconhecimento de palavras e sons.
Fonte: Revista Na Mochila.